4 - Lua Negra

 
— Me fazer repensar? Ah, querido... está um pouco atrasado nisso.

— Não estou, cheguei bem na hora. — ele insistiu. — Você ainda não entrou na cena do crime, se entrar agora, vão saber. E eu terei que dizer a eles.

— Me dedurando? Não seria nenhuma novidade.

— ... Selinne faça as escolhas certas. Você estava se saindo bem, conseguiu um emprego e estava andando na linha. Não há ninguém que acredite na sua mudança?

Ela hesitou, pensou em Bruce e em seu rosto angustiado durante aquela chuva.

— Sei que deve haver alguém que acredite em você... — continuou Batman. — não desaponte essa pessoa.

— Você... não entende, não sabe o que é ser alguém tentando recomeçar a vida depois de tantos erros! Não sabe o quão difícil é se esforçar ao máximo, dar tudo de si e então... vir alguém e estragar tudo...!

— Sim, eu sei. Eu acredito em você, assim como acredito em Gotham.

— Eu... — ela apertou os punhos. — Não posso mudar o passado, não posso apagar as coisas que fiz... mas posso agir no presente, e compensar... de alguma forma compensar.

O vento da madrugada uivou frio sobre o telhado, Batman deu outro passo à frente.

— Você esteve presa, cumpriu a sua pena. Você fez a sua parte como alguém tendo a sua segunda chance. Tudo o que precisa fazer, agora, é continuar nesse caminho.

— ... Eu preciso fazer isso, tenho que investigar quem está se passando por mim. Roubar joias ligadas a gatos, em lugares como esse... essa é a minha especialidade!

— Não é mais! — Batman deu outro passo, estendendo a mão. — Vamos embora... Deixe os policiais cuidarem disso, me deixe investigar no seu lugar... — ele balançou a cabeça. — Apenas não se envolva.

— ... Não posso, isso me envolve e uma hora ou outra tudo isso vai voltar a acontecer de novo... Não é questão de orgulho ferido, mas do que realmente é necessário. — ela se abaixou novamente e puxou a tampa do alçapão.

— Selinne, não!

Batman tentou alcançá-la, mas ela foi mais ágil, como sempre — e pulou.

— Agradeço por acreditar em mim, Batman. — ela deslizou pelo pilar, arranhando as paredes. — Você e meu amigo Bruce são os únicos.

Batman pulou atrás dela, não havia desistido.

— Seu amigo parece ser sensato, deveria escutá-lo. — murmurou Batman.

Selinne enrola a corda do chicote no quadril e caminha agilmente pelas exposições de jóias e monumentos históricos. Então, ela se aproxima da cena do crime, enquanto ajusta suas luvas e passa debaixo das faixas amarelas que cercam o local. Com mais alguns passos, ela se aproxima do pedestal vazio, onde antes estava um colar com um pingente em formato de garra. Selinne franze o cenho ao ver algo entalhado na base do pedestal.

— O que é isso...? — ela sussurra.

Um símbolo em forma de meia-lua entrelaçada com uma serpente está marcado no pedestal, queimado com um tipo de ácido. Selinne toca o símbolo com cautela, e seus olhos se arregalam.

— Não vejo isso desde... desde que eu era uma criança...

Batman se aproximou silenciosamente, analisando o chão com uma luz azul vinda da ponta dos dedos de sua luva.

— Reconhece esse símbolo? — ele pergunta.

— É... é o mesmo que tinha entalhado numa caixinha que minha mãe escondia no armário. Ela não deu muitos detalhes, não gostava de falar disso. Mas era algo relacionado a gatos e outros grupos... sei disso porque minha mãe tinha tatuagens de gatos nas costas. Uma delas me dava calafrios...

— A"Lua Negra" — murmura Batman. — , já ouvi falar deles uma vez. Lidei com organizações parecidas, mas nada assim... a Lua Negra financiava grupos ocultistas, grupos que praticam canibalismo e sacrifícios, tinham múltiplos interesses, por isso sempre foi difícil de serem rastreados.

Batman projeta uma imagem 3D do símbolo com um scanner portátil, e os dados começam a passar pelas paredes.

— Eram mais ativos na década de 90, mas os líderes sumiram com o tempo e essa sociedade foi desmontada... pelo menos é o que todos pensavam. De qualquer maneira, esse não é o estilo deles. Talvez seja um dos grupos que eles financiavam. — Batman apertou um botão no scanner. — Pelo estilo, acredito que quem está por trás disso seja a "Seita Felina".

— "Seita Felina"? — Selinne pergunta, olhando para as imagens que aparecem nas paredes. A cada foto, seu corpo arrepia.

— Sim. Uma seita que adora gatos e rouba tudo que é egípcio. Faziam cultos principalmente à deusa Bastet, eram numerosos. Mas assim como a Lua Negra, ficaram inativos de uns anos para cá.

— E agora voltaram... Usando os meus métodos, e mexendo no meu passado... — diz Selinne, cerrando os punhos. — Isso é pessoal demais para deixar de lado...

Batman vasculha o local com um pequeno drone que pegou de seu cinto de utilidades. O drone percorre pelo teto, detecta pegadas que não são nem da polícia, nem de Selinne.

— Tem um rastro em direção a um dos dutos de ventilação, clássico...

— Me deixa seguir esse rastro com você. — Selinne insiste. — Podemos trabalhar juntos nisso, a sua perspicácia e tecnologia, junto a minha... beleza.

— Você disse que queria compensar os erros do passado, certo? Então precisa confiar em mim. Me deixe levar isso à frente, sozinho.

Ela nega.

— Confiar em você outra vez? Nem pensar... Preciso entender como tudo isso me conecta com o meu passado perdido, e com o que estou tentando ser agora... se eu quero viver uma vida normal como Selinne, preciso resolver esse último problema da Mulher-Gato, da Selina.

O drone retorna com um fio vermelho de tecido preso em uma mini garra. Batman pega, e examina em silêncio.

— Isso é seda com partículas de pó de ouro. Isso só pode vir de um lugar hoje em dia... — ele olha intensamente para Selinne. — A galeria subterrânea do teatro abandonado no Distrito Leste.

— E-eu conheço esse lugar! Participei de algumas peças para ganhar dinheiro, quando aquele lugar ainda funcionava...

— É pra lá que vamos. Agora deve ser algum tipo de base deles.

— Vamos? No plural?

Batman olhou para ela, um leve sorriso em seu rosto.

— Se você quer mesmo dar a volta por cima... então seremos aliados temporários. É melhor que eu fique de olho em você. Garantindo que não passe do limite outra vez.

Selinne sorriu, ajeitando sua tiara. Batman apontou seu gancho para o alçapão aberto e puxou Selinne, subiram juntos para fora do museu.

— Foi só dessa vez... não pense que pode encostar em mim de novo... — ela cruzou os braços. — Como antes. 

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