21 - Tecnologia Sempre a Favor
O homem que identifiquei se chama Caleb Marsh. Lutas clandestinas. Segurança particular de um dos líderes do submundo de apostas e tráfico de armas. Ex-fuzileiro. Dado como morto no Afeganistão há mais ou menos três anos.
A localização atual era um depósito abandonado, com fachada de armazém e um porão convertido num ringue ilegal.
Usei os drones menores para mapear as entradas. Quatro rotas principais: entrada frontal com controle visual direto, escada de acesso lateral encoberta por estruturas metálicas, duto de ventilação largo o suficiente para minha movimentação e uma saída de emergência trancada por dentro. Escolhi a escada lateral. Mais rápida, menos exposta. Rota de fuga, se necessário. Não seria.
— Ativando modo escuro — murmurei, e o visor se ajustou ao contraste térmico, deixando minhas lentes vermelhas.
Desci em silêncio até ouvir os primeiros gritos abafados vindos do porão. A arena estava ativa. Sons altos de impacto, apostas sendo gritadas, vozes arrastadas em diálogos rápidos. Observei por trás das barras enferrujadas. Caleb estava na lateral do ringue, braços cruzados, de olho em um dos lutadores. Não sabia que era observado.
Até eu começar a descer.
Um dos homens me viu assim que me deixei propositalmente exposto.
— O quê...?
Não esperei nenhum segundo. Arremessei uma granada de luz e som na escada. A explosão estourou tímpanos despreparados e cobriu meus movimentos ágeis.
O primeiro veio às cegas, tropeçando. Usei a queda dele como impulso para me lançar contra os dois seguintes. Um golpe seco na garganta do primeiro, deslocando a laringe. O segundo tentou me prender com uma corrente, mas puxei a corrente para mim e usei o próprio movimento dele para lançá-lo contra a parede. Ossos quebraram. Ele gritou.
Mais dois surgiram na curva da escada. Vinham armados.
Usei o lançador de fumaça. Redução de visibilidade: 92%. Termovisor ativado.
Desarmei o primeiro com um chute direto no punho. A arma voou da mão dele. Rolei para o lado, desviei do segundo, torci o joelho em ângulo negativo.
— AHHHHHHHHHHH! — O grito atraiu mais dois.
Um deles com uma faca. O outro, uma barra de ferro.
— Peguem esse filho da puta! — gritou.
Atirei o taser de pulso. Dois choques rápidos. Ambos caíram espumando.
— Ele existe! — murmurou alguém, correndo.
O resto hesitou em atacar. Desci devagar, com passos rápidos pela escada de metal. O espaço interno era abafado, difícil de fugirem livremente.
Os espectadores começaram a gritar, derrubando bancos, copos e papéis. As apostas ficaram no chão. O ringue esvaziou em segundos. Pânico por causa da minha presença.
— P-pensei que a polícia estava inventando sobre a existência dele! — gritou um capanga.
Me movi em frente. Caleb percebeu que era tarde demais para correr.
Tentou subir por uma escada de emergência, mais abaixo. Saltei do patamar superior e aterrissei sobre ele, usando o peso do traje como impacto. Ele caiu de joelhos. Tentei imobilizar, mas ele girou e me lançou contra o pilar central. A armadura absorveu o impacto. Sem pausa, avancei de novo.
Ele lutava bem. Exatamente como o militar treinado que era. Combate direto, técnicas de Krav Maga e boxe misturadas à brutalidade imprevisível de rua. Mas eu era mais rápido. Mais frio. Sem hesitações.
Acertou um cruzado no meu maxilar. Girei com o impacto e, no mesmo movimento, desferi um golpe com o ombro que o jogou contra o chão de metal.
— Argh! — gemeu.
A arma escondida sob a camisa voou longe. Antes que ele levantasse, prendi o braço dele sob meu joelho e torci.
— O que a seita felina quer com Selina Kyle?
Tentou cuspir sangue.
— Não sou paciente, Caleb. Nomes.
Vi o movimento da mandíbula inferior. Rápido demais. Outra daquelas cápsulas.
Meti dois dedos na boca dele e forcei o maxilar a abrir. Arranquei quatro dentes junto com a cápsula metálica escondida na base da gengiva. Ele gritou, sufocando no próprio sangue.
— Vai morrer por eles?
Ele arfava.
— Só ouvi um nome... — tossiu. — No caminho... teatro...
— Estou ouvindo.
— Conrad Relder... — O olhar virou. Perdeu a consciência. Provavelmente por dor e choque hemorrágico.
Ativei o protocolo de alerta no dispositivo do meu pulso.
— Unidade policial do leste, coordenadas transmitidas. Luta clandestina, armas, apostas ilegais. Múltiplos feridos. Isolar o perímetro.
Desativei os sistemas do traje para ocultação e saí pelo duto que havia preparado antes de entrar.
A noite estava mais escura quando deixei o galpão.
Mas pelo menos agora eu tinha um nome importante.
(...)
A mansão Wayne estava imersa no silêncio habitual das madrugadas frias. Nenhuma luz acesa. Entrei na donzela de ferro. A entrada se fechou, e o elevador desceu.
Assim que cheguei à Batcaverna, os sensores do computador acenderam em sequência. Detectaram minha movimentação.
— Robin, estou online — anunciei, indo até a cadeira de frente às telas. — Nova pasta. Nomeie como "Investigação Conrad".
A I.A respondeu com sua habitual voz neutra e infantil.
— Boa noite, chefe. Pasta criada e nomeada — surgiu o holograma ao lado do computador, usando um uniforme vermelho, verde e capa preta. — Identificação vocal reconhecida. Ativando protocolos de análise. Qual o objetivo dessa nova investigação?
— Preciso de tudo que tiver na internet e nos arquivos do Planeta Diário sobre o vereador de Metropolis. — Me sentei. — Conrad Relder.
Pausou por milissegundos. Processamento acelerado. Em menos de dois segundos, arquivos pipocaram nas telas centrais e auxiliares.
— Conrad Relder. Cinquenta e oito anos. Eleito pela primeira vez aos trinta e dois. Reeleito cinco vezes. Casado com Angela Relder, sem filhos. Formação em Direito Internacional, especialização em geopolítica ocidental. Começou carreira como defensor público em Suicide Slums antes de migrar para a política. Nenhum antecedente criminal, mas doações vultosas e ocultas de entidades privadas ligadas à infraestrutura subterrânea da cidade, a partir de 2009.
— Me mostra o histórico visual dele. Registros públicos dos últimos trinta anos. Linha do tempo.
Robin obedeceu. Imagens se desenrolaram numa linha cronológica projetada no monitor central. Fotografias de campanhas, eventos sociais e entrevistas.
Conrad Relder, trinta anos atrás: rosto aberto, paletó claro, sorriso treinado de político promissor.
Dezesseis anos atrás: roupas mais pesadas, barba por fazer, olhar começando a perder a luz.
Hoje: pupilas retraídas mesmo sob luz, pele mais cinzenta, postura rígida. Vigilante.
— Pausa — murmurei. — Zoom no rosto. Terceira imagem. Olhos.
Robin ampliou a imagem do registro mais recente, durante um evento fechado da prefeitura de Metropolis.
— Café, senhor? — A robô Batgirl se aproximou com uma bandeja. Era usada para manutenção do Batmóvel e limpeza da caverna. — Ou prefere energético?
Neguei rapidamente com a mão. Ela se afastou.
— Robin, encontre variações pupilares nos últimos cinco anos. Cruzar com espectros térmicos e alterações comportamentais.
Robin exibiu as sobreposições. Quase imperceptível, mas estava lá. Um desvio súbito no padrão visual de autoimagem. Passou a usar ternos com camadas internas de proteção. Roupas mais escuras. Cortou aparições públicas noturnas por dois anos. Mudança completa nos padrões de doadores e agendas de reuniões. Relacionamentos políticos desapareceram da noite para o dia.
E o mais revelador: seu nome surgiu em três transações cruzadas com fundações fantasmas, mais tarde absorvidas por empresas que orbitam o submundo de Gotham. Em uma das imagens, Bianca Moreno estava ao fundo, olhando diretamente para Conrad.
— Não acredito em coincidências... — murmurei, encarando as informações anexadas de Bianca em outro monitor.
Robin respondeu:
— Há indícios de que Conrad Relder sofreu alguma mudança profunda em torno de 2009. Possível evento traumático ou contato com entidades externas à atividade política tradicional? Não há registros médicos disponíveis após essa data. Prefere que eu envie um vírus espião aos hospitais de Metropolis?
— Não vamos nos dar ao trabalho. A mudança de comportamento dele é semelhante à de Bianca. É a seita. Eles conseguem mudar a postura e o olhar das pessoas... Quando se envolvem com o que não deveriam, é nisso que dá — murmurei só para mim.
Fitei o holograma de Robin por alguns segundos. Ele inclinou a cabeça, processando minhas palavras.
— Continuar monitoramento de Relder. Traçar rotas, hábitos, associações. Quero saber até a hora que ele respira mais fundo... Até algo chamar minha atenção, não devo ir até ele ainda. Selinne precisa vir comigo.
— Monitoramento iniciado.
Apaguei as telas menos importantes.
Já sabia o suficiente por esta noite. Mesmo não sendo o bastante.
— Iniciar temporizador. — Caminhei até a donzela de ferro. — Três horas de sono são mais que suficientes.



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