10 - Poker Face
Um dos 2 testes finalmente terminou.
Análise cruzada de 12 marcadores STRs, todos compatíveis com o banco de dados criminal de Gotham. Resultado: 99,9987% de correspondência com Devin Marks, segurança particular de Dmitri Valev, proprietário de uma boate na zona leste — The Velvet Room.
Devin possui uma ficha extensa: assalto à mão armada, tentativas de homicídios, quase foi um membro dos Lobos de Arkhangelsk, mas o consideraram fraco demais. Atualmente está atuando sob fachada legal.
Agora envolvido em uma seita macabra. Essa cidade de fato é a maior piada, Coringa.
Caminho até o Batmóvel, o computador ainda ligado, trabalhando no reconhecimento do outro teste. Engato a marcha. O Batmóvel ronca com fúria contida.
(...)
As 21h43. Chego à frente da boate. Fachada negra, discreta. Seguranças na entrada. O letreiro em néon pulsa vermelho, como um coração batendo fora do peito. Desço. Eles me veem e viram o rosto. Não tentam impedir.
Há um carro parado na esquina, pela placa é de um tira. Mas não tenho tempo de saber porque estão aqui, ou vigiando quem. Preciso agir rápido.
Meus passos são firmes. O ambiente escurece quando entro. Luzes estroboscópicas em vermelho, azul e amarelo, há fumaça artificial, cheiro de álcool barato, suor e algo que prefiro não nomear. O som grave da música vibra no meu peito. Cada olhar se volta para mim — alguns hostis, outros apenas assustados. Meu nome percorre o lugar, eles temem.
— O que ele veio fazer aqui? — diz alguém enquanto continuo em frente.
Algumas mulheres surgem na minha frente, tentando uma distração.
— Ei, morceguinho, veio se divertir conosco? — uma delas barra a minha passagem, colocando a mão sobre meu peito.
— Saia da frente. — digo firme.
— Você parece mau... — ela me olha com um brilho nos olhos, passa a mão sobre o símbolo do morcego vermelho. — Eu gosto de homens como você.
— Se não quiser um belo gesso no pulso, aconselharia retirar suas mãos pegajosas. — digo frio.
O rosto dela empalidece e sua colega a puxa. Continuo em frente, procurando meu alvo. Há pessoas que já prendi aqui, eles me olham com desconfiança. Vejo narizes sujos de pó branco, mas faço vista grossa, cuidarei disso mais tarde.
— Ei, morcegão... — diz um homem corpulento, com um dente de ouro e hálito de uísque — Esse não é o seu lugar.
Dois outros se levantam. Percebo os movimentos antes que aconteçam: o da esquerda saca uma faca escondida na manga; o da direita tenta um soco direto.
Erro.
Me abaixo, girei com a bota em arco, acerto o queixo do primeiro com força suficiente para deslocar a mandíbula. O segundo cai com um gancho invertido na costela. O terceiro hesita. Tarde demais — o imobilizo com uma chave cervical. O barulho do corpo dele caindo é abafado pela batida da música. Ninguém se aproxima mais.
Volto a andar. Meu recado foi dado.
Passo pelos corredores, há salas VIP. Dentro há dançarinas contratadas da boate, fazem shows particulares, para homens que pagam mais, ou que são membros mais antigos. Olho sala por sala, os rostos empalidecem com a minha presença. Continuo em frente, sem sinal de Devin ou de Valev.
Avanço pelo corredor do norte, e passo por uma sala iluminada por tons vermelhos, volto alguns passos. O vidro da porta me mostra a cena. E eu congelo.
Selinne.
Está ali. Em cima da mesa de centro, dançando ao som lento de Poker Face. Usa um salto fino, saia curta e uma peça de lingerie na parte de cima, uma roupa tão provocante que nem mesmo a Selina do passado usaria. Homens ao redor observam com desejo, rindo, embriagados de poder.
— Ela é nova, se mexe bem... — diz um deles, visivelmente excitado.
— Acho que tenho uma nova dançarina favorita! — um deles grita rindo, mal tira os olhos de seu decote. — Ela é gostosa...
Ela gira sobre a mesa, levanta uma perna numa altura sensual demais. Sua silhueta é familiar, cravada na minha memória como o cheiro da chuva nos telhados de Gotham.
Ela se deita sobre a mesa, passa a mão lentamente pelo corpo, é ousado demais. Um dos homens joga notas no palco.
— Garota, você dança muito!
Selinne sorri, os olhos fechados, aproveitando o momento como se estivesse sozinha. Suas mãos continuam, sobre as coxas, sobre os seios. Passa pelo pescoço e desliza entre as coxas. E então o olhar dela cruza com o meu por um segundo. Mas ela não para. Continua dançando, girando pela mesa com uma provocação sensual. Eu gosto e admito, — aperto os punhos e minha mandíbula se tensiona. O sangue ferve sob a armadura, e meu rosto permanece impassível. — mas não estou sozinho aqui.
— Até o morcego parece hipnotizado. — um deles diz, e decido reagir.
Selinne continua dançando, como se não se importasse nenhum pouco. Me aproximo rápido, minha mão a envolve com força.
— Já chega disso. — digo mais firme do que pretendia.
Ela ri, provocando.
— Você não parecia estar querendo que eu parasse... — ela se solta da minha mão, se vira de costas e mexe o quadril de um lado para o outro, rebolando. — Não sei se você percebeu... mas estou trabalhando.
Os homens em volta riem, alguns se inclinam querendo vê-la mais. Mas permaneço na frente, e enfim a puxo daquela mesa.
— Ei! — ela grita.
Saio da sala puxando-a.
— Chama isso de trabalho? Recusou uma proposta de emprego, na empresa de Bruce Wayne. Seu amigo.
— Como sabe disso?
— Acha que existe muita diferença em parar de roubar, pra fazer isso? Vendendo sua dignidade dessa forma?
Ela bufou.
— Você é inacreditável, Bat.
— Saia desse lugar, ligue para Bruce e diga que aceita o emprego.
— Se não, o quê? — ela cruza os braços. — Você vai me dar uma surra como fez com o Charada?
Semicerrei os olhos.
— Ele está paraplégico até hoje por sua causa... — ela continua provocando.
— Pelo menos vive uma vida mais digna naquela cadeira. — puxei o braço dela outra vez.
— Você sempre pega pesado com as pessoas... — resmungou. — Mas afinal o que faz aqui?
Paro de andar, e ela entra na minha frente.
— Não me diga que... aqui tem alguém envolvido na seita?
Não respondo, e ela fica irritada.
— Você disse que me avisaria se soubesse de algo! — Selinne grita.
— E eu ia, depois que já tivesse lidado com ele.
— Realmente não dá pra confiar em você... Que decepção.
— Quer mesmo falar do que é decepcionante? Não vou pedir de novo. Saia daqui e aceite o emprego na WayneCorp. Se você conseguir o emprego, eu te deixo a par de tudo. Saberei que você realmente mudou de vida. Caso contrário...
— Você vai continuar agindo pelas minhas costas... — ela bufou. — Eu também descobri algo interessante aqui, mas não vou te contar.
Ela voltou a andar e agarrei seu braço outra vez.
— O que descobriu?
Ela me olha e sorri de canto.
— Primeiro vamos continuar o que você veio fazer aqui. Depois eu te digo sobre... — ela procurou algo no decote, com um olhar fixo nos meus lábios. — o que esse anel aqui tem ligação... ou melhor, com quem.
Encarei o anel de jade, havia um gato entalhado nele. Tentei pegar, mas ela guardou de volta.
— Temos um trato?
Voltei a andar.
— Você roubou de novo... — murmurei.
Ela me seguiu com passos apressados.
— Não foi por impulso, mas porque esse anel tem relação com o que estamos tentando descobrir. Qualquer coisa relacionada a gatos é uma pista agora. E dessa vez, acho que dei sorte.



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